_Por: Felipe Veras, diretor de negócios do Grupo Campo Ouro Verde_
No complexo e sensível mercado de frutas, legumes e verduras (FLV), a eficiência logística é fator determinante para a competitividade e estabilidade dos preços. Entre os diversos desafios enfrentados nesse segmento, o gerenciamento de avarias se destaca como um dos mais críticos — e frequentemente subestimados — elementos da cadeia. Sua ineficiência tem impactos diretos e indiretos sobre os preços praticados, penalizando tanto produtores quanto consumidores.
Os produtos de FLV são altamente perecíveis. Pequenos descuidos no transporte, armazenamento ou manuseio rapidamente se traduzem em perdas de qualidade, descarte e, consequentemente, redução na oferta. Em um ambiente de margens já comprimidas, cada caixa perdida representa não apenas um prejuízo econômico imediato, mas também um fator de pressão para o aumento dos preços praticados no restante da carga.
Estudos indicam que as perdas no setor podem chegar a 30% em algumas etapas da cadeia, principalmente quando não há protocolos rigorosos de controle de temperatura, umidade e acondicionamento. Além disso, falhas simples, como embalagens inadequadas ou manuseio incorreto nos centros de distribuição e pontos de venda, aumentam ainda mais o desperdício.
O custo da ineficiência
Quando a gestão de avarias falha, o custo não se limita ao produto perdido. Logística reversa, descarte, retrabalho, indenizações, reclamações de clientes e perda de credibilidade entram na conta. Tudo isso encarece o produto final. No varejo, a necessidade de compensar essas perdas leva à formação de preços mais altos para o consumidor.
A pressão sobre os preços não é, portanto, apenas um reflexo da oferta e demanda, mas também da ineficiência operacional. Em um cenário de inflação de alimentos, essa é uma variável que deveria estar no centro do debate sobre políticas públicas e estratégias empresariais no setor hortifrutigranjeiro.
Frutas, legumes e verduras são, por natureza, produtos frágeis. Sofrem com variações de temperatura, umidade, manuseio inadequado e transporte ineficiente. A cada etapa da cadeia — colheita, armazenamento, transporte, distribuição e exposição — há riscos reais de perdas por avaria. Estudos apontam que, em algumas cadeias, as perdas podem ultrapassar 20% a 30% do volume total, dependendo da estrutura logística e das práticas de manejo.
Cada produto que se perde não representa apenas um item a menos na prateleira: representa um custo que precisa ser diluído nos produtos restantes. Assim, o desperdício gera um efeito dominó: menos produto disponível, aumento de custos operacionais e, inevitavelmente, preços mais altos ao consumidor final.
A seleção e exposição adequada também tem sua parcela de importância no impacto de redução das perdas, pois, quanto mais triado e bem expostos os produtos nas gôndolas dos supermercados, mais impulsionará as vendas ao consumidor final e por consequência as frutas, legumes e verduras estarão menos tempo nas “prateleiras”, reduzindo o percentualmente a quebra. A aposta é ter produtos de qualidade e serviço bem feito na ponta.
Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), as perdas totais no varejo supermercadista representaram 1,87% do faturamento líquido em 2024, totalizando aproximadamente R$ 34,9 bilhões em perdas.
Quando analisamos apenas o setor de FLV, o cenário é ainda mais preocupante. O segmento apresenta o maior percentual de perdas dentro das categorias perecíveis: 5,83% de perdas em 2024, segundo dados consolidados da ABRAS. Isso significa que, de cada 100 kg de frutas, legumes e verduras que entram no supermercado, quase 6 kg são perdidos ao longo do processo logístico e de exposição no ponto de venda.
Apesar desses dados alarmantes, o estado do Ceará tem índices melhores que média nacional, 1,4% frente a 1,87% da média nacional, destacando-se como um exemplo a ser seguido e liderando o maior fórum de prevenção de perdas do Norte e Nordeste, que é organizado pelo Comitê de Prevenção de Perdas da Associação Cearense de Supermercados (Acesu) em conjunto com a Associação Brasileira de Prevenção de Perdas (Abrappe) e anualmente discute estratégias para mitigação desses números.
A má gestão de avarias no setor de FLV custa caro a toda a sociedade. Enquanto o Brasil conviver com índices de perdas acima de 5% em produtos perecíveis, o consumidor continuará pagando mais caro, o produtor continuará sendo pressionado a reduzir preços e o varejo perderá competitividade frente a mercados mais eficientes.
O combate às perdas não é uma simples boa prática — é hoje uma das chaves centrais para garantir segurança alimentar, reduzir o desperdício e construir um varejo mais sustentável.